Ampliar Consciência: um horizonte de novas possibilidades

08/11/2020

Quando uma cultura atinge seu ponto mais alto, mais cedo ou mais tarde vem a época da dissociação. a dissolução aparentemente sem sentido e sem esperança, numa multiplicidade incoerente e sem objetivo que pode encher de amargura e desespero o espectador, contém, todavia, no seu interior escuro o germe de nova luz. Carl Gustav Jung em 'Civilização em transição'

A escrita de Carl Jung

já nos ajudava a ampliar nossa visão a respeito do propósito da grandiosa mudança que temos vivenciado enquanto sociedade. Já desde o outro século ele nos convida a refletir sobre o "espírito da época" e a importância de reconhecer o nosso lugar, o movimento do nosso próprio espírito através das mudanças necessárias para outro curso da história humana. Temos as nossas escolhas e caminhos, mas elas acontecem dentro da força das coisas que a época requer, e quanto mais alinhados com essa direção muito mais grandiosa que nós, mais estaremos fluindo nessa dança da vida com o nosso passo, que é único. O chamado para nós hoje é o de renascer, substituir as estruturas desgastadas que não se sustentam mais, com maior consciência a cada escolha.

Os caminhos são muitos, na mesma direção - uma nova percepção ecológica da vida, um novo paradigma de Ser na Terra, o reconhecimento de novas leis que regem nosso corpo e espírito, a integração de novos modos de estar em rede, em sociedade, na comunidade que somos. Ao tempo em que muitos sistemas falidos, internos e externos, vão cumprindo seu tempo e não mais se sustentam.

Carregamos em nosso processo individual, as demandas emocionais de uma coletividade inteira, as angústias de toda uma nação, e da humanidade em sua época; reveladas em cada um de nós a fim de serem transformadas. 

Seja por um caminho terapêutico orientado, seja na jornada do auto-olhar por outros passos, e em diferentes formas de engajamento, o buscador é aquele que escolhe transformar o mundo através de si mesmo, assumindo essa pequena-grande tarefa. E assim, segue sua jornada, sem certezas, mas com sentido, no contentamento (às vezes descontente) de simplesmente Ser, e revelar o mundo inteiro em si mesmo, um Ser Humano. Precisamos cuidar do mundo inteiro, precisamos cuidar dele em nós mesmos! A autorresponsabilidade e autotransformação é o maior altruísmo. Transformamos o mundo ao transformar o próprio universo "interior", que nunca é somente "nosso". É também um caminho de luta social, silenciosa e igualmente decisiva na conjuntura na qual estamos mergulhados. E a ecologia do somosum se encarrega de realizar a sábia energia da distribuição.

É quando passamos a sentir as conexões ocultas das nossas raízes mais profundas, e com mais consciência os galhos também vão se encontrando, na integração mágica e natural de uma floresta inteira. Uma floresta que está a realizar uma difícil travessia, consciente e inconscientemente. A cada um cabe um lugar nessa passagem, e o desafio de perceber-se participante. 

A tremenda força de retrocesso à nossa volta nos convoca para um alinhamento urgente com quem somos e com o que estamos a fazer aqui. Um ancoramento de nossa própria força, individual e coletiva, em um mar de desestabilização. Vivemos uma situação coletiva única, que nos coloca perante a incerteza de um jeito difícil de elaborar, mas que é ao mesmo tempo um portal para outro mundo possível, a partir da ampliação de nossa consciência. É o nosso desafio e também nosso aprendizado, a tarefa de nossa época, desbravar caminhos que ainda não foram trilhados, imaginar e realizar outro mundo possível.

O desafio é o de direcionar a nossa energia para o que o momento presente está convocando: novas percepções e resoluções, em um contexto em que talvez alguns projetos e escolhas de vida estejam perdendo o sentido.

Precisamos transformar muito

em nós e fora de nós, e os momento de crise são sempre oportunidades para repaginar o caminho, re-unir nossas possibilidades de fortalecimento e re-construção. Pois é certo que, ao sairmos dessa ponte, a vida não será como antes, estaremos transformados e com novos horizontes à vista, chamados a semear no novo solo que se mostra.

E como todo renascimento requer, precisamos vivenciar em nós a morte simbólica que essa travessia representa, a "noite escura da alma" nas palavras de Carl Jung, para descobrir a vida não vivida que vem depois de atravessarmos essa grandiosa transformação em nós. Cada um a seu modo, cada um em seu lugar, vivenciando o recomeço, presenciando o amanhecer da consciência. Há muito estamos no escuro da noite humana, e parece ser o tempo de mudar o curso de nossos passos aqui.

O mais grandioso nesse novo estágio da consciência humana, é o caminho que se reconstitui entre espiritualidade e ciência, entre canalizações intuitivas e comprovações científicas, que se reencontram mais e mais na mesma direção - uma percepção ampliada de quem somos nós e quais as nossas potencialidades adormecidas. As portas da razão e dos muros acadêmicos se abrem para o conhecimento que sempre esteve "por fora do muro da cidade dos homens", como ensina O Louco no tarot, nas escolas de mistérios e entre os sacerdotes. A Era astrológica de Aquário, que adentramos a passos largos, é a era da informação e do espírito, da integração e da inovação, da revelação e compreensão do que parecia misterioso e oculto, da transformação da consciência para outro estágio de Ser Humano.

A crise humanitária é, portanto, caminho. Caminho para realizar outro mundo possível, após termos adentrado e sustentado por tanto tempo os frutos de uma construção industrial, dos modos insustentáveis de energia, das formas exploradoras de trabalho, do adoecimento de uma vida encaminhada pelo individualismo, produtivismo e consumismo, discriminação e políticas excludentes que esgotaram a Terra em suas condições de vida e da própria sustentabilidade da raça humana. 

Estamos sendo chamados a recuar do caminho que nos colocou perante um abismo, para reaprender a sermos comunidade, sustentabilidade e bem viver. E a descortinar o véu do materialismo, resgatando a dimensão do transcendental como essência de quem somos, desde outras dimensões até o nosso corpo celular. 

Então, se é mais escura a madrugada, é que nos aproximamos da hora do nascer do sol, de um novo amanhecer para nossa consciência, de outro tipo de renascimento disponível para nós, da clareza solar que já nos tem mostrado muito do que estava sombrio, para ser reconhecido, integrado, transformado. Já é tempo!

Uma profecia


Mais de 200 comunidades originárias, da América do Norte à América do Sul, se encontram em uma mesma profecia: a da Serpente Emplumada, o despertar da pluma, relacionado ao movimento da Kundalini no planeta. É uma profecia de milhares de anos, relacionada ao calendário Maia e a conclusão de um grande ciclo do tempo em 2012, que abriu novos caminhos para a consciência humana em um novo grande ciclo que estamos dando início. Estamos despertando para uma nova energia no planeta, e a América do Sul está desempenhando um papel importante nessa abertura, com um movimento profundo da Kundalini do planeta ao longo dos Andes. A conexão com os ciclos calendáricos ancestrais vai apontando caminhos para um realinhamento com as leis cósmicas, e com uma cosmovisão que foi roubada de nós nos movimentos de colonização e dominação dos antigos saberes.

Quetzalcoatl,

a serpente emplumada, serpente com penas, uma espécie de dragão, é o Deus asteca do vento e do juízo. Relacionado à fronteira entre a terra e o céu. Na versão Maia é Kukulkán (serpente sagrada). Simboliza a renovação humana, a partir do novo ciclo iniciado em 2012, em que se abre o caminho de reconexão espiritual e percepção ampliada da vida, a reconexão com outros sistemas estelares e a realidade multidimensional. É a fusão entre céu e terra, a transformação profunda na qual estamos imersos, consciente ou inconscientemente, nesses tempos de turbulência do que sempre foi, e abertura para outros caminhos internos e comunitários. As crises são um chamado para ir além, para ampliar a consciência.

A disseminação dos caminhos e ferramentas de alinhamento e curas multidimensionais, canalizadas para nós hoje, é um exemplo do quanto estamos acelerando esses passos. Um outro horizonte descortina-se para nós, e quanto mais buscarmos despertar para esse movimento e para o nosso lugar através dele, mais poderemos adentrar o fluxo das mudanças sem perder-se no sofrimento da incompreensão das dores que chegam com s desvinculação dos velhos padrões - nós as estamos sentindo no corpo, em cada célula, com ajustes mentais-emocionais-físicos em nosso campo energético, mental e emocional. O processo de transição da consciência é natural e conhecido desde muito tempo, que em nossa modernidade adormecida necessitamos re-conhecer.

Novo normal?

Pensar que as coisas voltarão ao normal é desperdiçar a oportunidade de des-cobrir uma nova vida possível. Na realidade, sustentar a normalidade não parece ser uma opção disponível hoje. A cada dia perdemos mais normas, sendo lançados na indefinição e incerteza. E esse caos é todo com relação ao mundo do ego, ao que percebemos com o sentimento de medo do novo. 

É preciso considerar que há outra realidade possível, individual e coletiva, pedindo para ser (re)construída. O que requer desapego, reconhecimento de que é preciso soltar muitos aspectos fora e dentro nas dimensões material e emocional da vida, soltar a luta permanente e habitual de querer manter as coisas como estão. O que já não é possível, pois a nossa psique está dando à luz outra realidade, outras narrativas, outros símbolos e até outros mitos, através de nós. Somos parte de um renascimento da consciência, de uma expansão da consciência coletiva, frente ao horizonte de novas possibilidades de vida. E a grande questão é: como alinhar o nosso caminho pessoal com esse fluxo de profundas transformações?


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Ayalla Freire I Psicoterapeuta Junguiana . Terapeuta Vibracional
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